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Pais, filhos e o vazio entre eles

Sem atenção, crianças e adolescentes buscam na internet o diálogo que desapareceu em casa

01 de Maio de 2017 13 comentários

De quem é a culpa? Ela pode ser sua! Infelizmente, o ser humano tem dificuldade de reconhecer seus erros. Apontar alguém ou alguma situação pelos desacertos é sempre mais viável. Pode “aliviar” instantaneamente o peso da responsabilidade, mas impede a consideração da necessidade de mudança. Confortáveis, seguros ou ocupados demais, os pais estão cegos diante da importância de transição no comportamento familiar. Enquanto os filhos clamam por limites, direcionamento e atenção, eles os empurram para a internet.

Foto: Arquivo Pessoal

Presenciamos assustadoramente cenas protagonizadas por uma geração perdida. Crianças e jovens que encontram no ambiente virtual, desde a mais tenra idade, a relação que buscam para suprir as ausências reais. Nestas últimas semanas, o jogo online “Desafios da Baleia Azul” e a série “13 Reasons Why”, da Netflix, trouxeram um alerta quanto ao suicídio dos jovens. Porém, podem ser eles julgados por inspirar a morte de pessoas pelo mundo todo? Não, de forma isolada.

Os especialistas esclarecem que toda problemática que envolve o suicídio é complexa. Para muitas pessoas, a adolescência é uma fase crítica, de descobertas, cobranças e conflitos, sobretudo emocionais. Isso sem contar as questões fisiológicas, especialmente hormonais. E, neste momento, em que estão em passagem entre a infância e a idade adulta, dependem ainda mais da atenção de seus responsáveis.
O jogo e a série despertaram na sociedade a importância de um olhar mais profundo à questão. A internet surgiu na década de 60 e sua globalização ao longo dos anos seguintes permitiu uma invasão aos lares, sem pedido de licença. Desde que chegou às famílias, é usada sem distinção, regras, restrinjas... Crianças e jovens se enclausuram em seus quartos e vivem uma boa parte do tempo manipulando smartphones e computadores, nas aventuras em bate-papos, redes sociais e games.

Ausentes, seja por conta da demanda de tempo dispensado ao trabalho ou mesmo por omissão, os pais os abandonam e, assim, o vazio permite o preenchimento indiscriminado de conteúdo, que, como no “Desafio da Baleia Azul”, pode ser fatal. E, não se trata de “coisa de adolescente”. Nos dias atuais, no qual o contato com o mundo virtual ocorre ainda na primeira infância, cenas de bebês manipulando tablets, celulares e outros dispositivos móveis se tornaram comuns nos mais variados ambientes. E, de tanto visualizarem os adultos, já se aventuram nas telas touch screen, que sensíveis ao toque conduzem os pequenos à navegabilidade, um caminho muitas vezes sem volta. É preciso cautela.

As crianças chegam a este ambiente sempre motivadas pelos pais. Crentes de garantir-lhes a inclusão digital, entregam os aparelhos em suas mãos e permitem que a navegação ocorra sem atenhas. Há ainda quem oferta o celular na tentativa de obter um “cala a boca” dos pequenos. Nas refeições, nos encontros familiares e com os amigos, o importante, para muitos, é o silêncio. E nesta mudez, perdem-se muitas oportunidades: dialogar, corrigir, sanar dúvidas, educar... Além disso, veta-se a chance da criança se expressar e de sentir-se integrada ao ambiente. É a inclusão digital da exclusão social. Permitir os conhecimentos em tecnologia é uma necessidade latente. Hoje, ela está presente em todos os campos de atividade humana, de forma indispensável. Porém, é preciso disciplina para uma navegação responsável e segura.

Toda e qualquer pessoa quer ser reconhecida, precisa de afeto, atenção. O diálogo tem poder construtivo no ambiente familiar e foi substituído, em muitos lares, pela conversa no Whatsapp, pela invasão excessiva das mídias, pelo silêncio. Ouvir, compreender e buscar preencher as lacunas que compõem a construção do ser humano deixou de ser prioridade. Quem não tem resposta em casa, vai buscá-la fora.

As séries e jogos não desaparecerão da rede mundial de computadores. A presença ativa dos pais, a consciência de que são insubstituíveis na vida dos filhos em todas as fases, e o conhecimento da realidade vivida por eles os armará para o combate, seja ele no ambiente real ou virtual. Proteja enquanto há tempo.

* Os textos só podem ser reproduzidos mediante autorização do autor e desde que citada a fonte

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MAIS 13 COMENTÁRIOS

anonimo

07 de Novembro de 2017

Infelizmente vim de uma familia assim,tomei na cara os tapas do mundo,mas me levantei,eu tenho do dos meus irmaos mais novos,porque la em casa meus pais sao muito ignorantes,muito desorientados e minha irma vive no cel,a mae so quer saber de ver os defeitos dos outros e nao tem nocao do perigo.afff

Geraldo Lélis

12 de Maio de 2017

Muito boa a reflexão. Os pais acham que é uma besteira, que não dá em nada deixar o filho "um pouquinho" na Internet, mas essa diversão/distração é uma ponta de iceberg, que esconde todo o mal que a falta de atenção pode causar no desenvolvimento da criança.

Leandro Nigre

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Ótima analogia, Lélis. É bem isso e, sem o policiamento, os "ladrões" invadem.

Rafael

11 de Maio de 2017

e eles são espelhos nossos né, de pequenos principalmente. É difícil falar do comportamento da criança se isolar num tablet se a mãe se isola no celular e o pai se isola no trabalho. Precisa haver cruzamentos, tem hora pra tudo na vida. Ótima reflexão :-)

Leandro Nigre

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Somos exemplos reais. Não podemos fazê-los ler livros, se não os lemos com eles...Incentivo e espelho!

Victor Hugo

11 de Maio de 2017

Coisa séria, a internet é muito poderosa, temos que ter cuidado para conseguir usar ela só para o bem.

Leandro Nigre

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Por isso estamos neste caminho, juntos, Victor. Vamos orientar e proteger nossos pequenos.

ADRIANO

11 de Maio de 2017

Que texto amigo! Boa reflexão de assuntos tido como tabus e polêmicos.. Mas nada como conversas diarias com os filhos e tendo limites com os eletronicos...

Leandro Nigre

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Esse é segredo, limites, a pais e filhos, e muito diálogo!

MARCOS ROMEU

11 de Maio de 2017

Um dia Tarsila pediu minha atenção e nessa hora percebi que não podia passar o dia fora e quando chegasse em casa dividir a atenção da minha filha cm um aparelho. Hoje sempre que entro em casa encosto o celular no canto e só tento usar depois que ela dorme.

Leandro Nigre

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Eles clamam por atenção, querem olho no olho, contato físico....vida real.

JAQUELINE

04 de Maio de 2017

Com toda certeza é muito mais comodo dar um aparelho celular/tablet para calar do que conversar e tentar entrar num acordo, o que é errado (apesar de eu fazer confesso) quando eu era pequena celulares ainda eram algo só pra gente "rica" ou seja demorei a ter contato com tal tecnologia e me lembro que sempre a conversa era o que resolvia, que dava um jeito, não precisava de um "cala-boca" como você mesmo mencionou no texto! Temos que repensar nossa posição quanto a filhos-tecnologia e tentar adiar o máximo que possível ou limitar! A série 13 reason realmente tá ai pra nos fazer repensar, no tipo de conversa e diálogo que temos que ter com nossos filhos!!

Leandro Nigre

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Obrigado por participar, Jaqueline. A reflexão é necessária. Entre silêncios, o desconhecido ganha forma e podemos perder o controle. Na minha época também não tínhamos acesso a tanta tecnologia. Considero indispensável nos dias de hoje, porém com uso moderado e racional.

ADRIANO

03 de Maio de 2017

Ótimo texto para reflexão!

Leandro Nigre

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Obrigado, Adriano.

Meire Andrade Cheregati

02 de Maio de 2017

Parabéns Leandro,amei ,muito bom mesmo seu blog. Amei essa matéria é é bem isso mesmo. O mundo não vai parar sempre existirá alguma coisa ou alguém que incomoda ou atrapalhe a vida passiva/ automatica das pessoas. Porém vai de cada um parar e se dedicar a viver bem isso quer dizer estar disposto as mudanças a evolução não deixando os princípios e valores adquiridos la atras...

Leandro Nigre

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Meire, Obrigado pela sua visita. Receber um elogio seu é realmente uma satisfação enorme, pela profissional que você é e pelo trabalho que desenvolveu com minha família. Vamos seguir na luta, justamente para preservação destes valores nesta geração multimídia. Queremos que acompanhem a evolução, mas cresçam em discernimento para administrá-la. Seja sempre bem-vinda!

Patrícia Cavalcante Pereira

02 de Maio de 2017

Oi Leandro, Seu blog está sensacional. Estou gostando muito das abordagens. Atuais e imparciais. Sou de São José do Rio Preto e desenvolvo, em uma entidade, um trabalho social e educacional voltado a crianças. Tenho compartilhado seu conteúdo com os papais participantes. Você já é bem conhecido entre eles. Continue com a proposta de transformação social. O tema de hoje é fantástico e uma realidade que precisa de atenção.

Leandro Nigre

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Grato pelos elogios e compartilhamento, Patrícia. Assim como o seu trabalho, esta é nossa proposta, pensar no social, na transformação que queremos para uma sociedade mais justa e dotada de valores morais e éticos.

Cláudia Melo

02 de Maio de 2017

Tbm achei a matéria muito importante no momento...Realmente não tá nada fácil mas eu priorizo o diálogo conversa e deixar claro q somos além de pás amigos...e ter o máximo de tempo juntos...Abri mão adiei sonho pra estar com ele durante o dia qdo se torna mais necessário até o momento tem dado certo...espero q continue assim Deus nos abençoe.obg Lê bjo

Leandro Nigre

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Esse é o caminho, Claudia. Precisamos nos tornar amigos, confidentes de nossos pequenos, ofertar atenção. Tenha certeza que sua decisão de dispensar tempo a ele foi a melhor. Seja sempre bem-vinda!

Guilherme Santos

02 de Maio de 2017

Eu confesso que nos dias de hoje tem sido cada vez mais difícil, já que você vai em uma festa infantil e, ao invés das crianças brincarem, estão sentadas com celular na mão, em jogos, Facebook e por aí vai...Como deixar seu filho fora em um lugar onde 100% das crianças estão fazendo isso?

Leandro Nigre

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Vislumbro o mesmo cenário, com frequência. Cada dia mais difícil colocar as crianças para correr, brincar...os eletrônicos os puxam para o chão, a cadeira...a inércia.... Vamos buscar o equilíbrio para otimizar o tempo em que os nossos ficam nestes aparelhos e estimular outros pais a seguir o caminho. Obrigado, Guilherme!

Meire Marques

02 de Maio de 2017

Leandro, Oportuna sua abordagem, os pais querem dar um cala a boca nas crianças com o celular. É triste!

Leandro Nigre

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Obrigado, Meire. É isso, mas vamos promover a transformação, começar pelos nossos... Fique conosco...

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